julho 28, 2014
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Estar perdido às vezes é sinal de sanidade. Não que isto me exima da angústia da solidão; é só que me acalma saber que é inato em mim sentir-me assim de vez em quando...
julho 20, 2014
Entreporos II
E eis que os
encontro. Pode ser um, dois ou um grupo inteiro. Sento-me com eles ali mesmo, e
puxamos uma cadeira para fazer de mesa de centro. Logo ao entrar já percebo o
cheiro: cada um à sua fragrância, destilando seu aroma. O frio da rua me
abandona, pois o cheiro quente das peles já faz luz ali dentro, me fazendo
esquecer de lembrar de tirar meu casaco. Penetram nos meus poros e eu nos
deles. Sobem pelo sapato, percorrem as dobras da camiseta, se esgueiram ao
redor dos meus braços. Sou eles e também sou aquele cômodo, aquela cadeira
feita de mesa de centro. Nossos cheiros agora se misturam em novas combinações,
e, quando rimos, baforamos o perfume que vai subindo feito névoa. Somos esse caldo de perfume
e creolina, uns-dos-outros: pertence-mo-nos. E, nessa de se trans-porificar, de
abrir poros, criamos novas artérias - não de sangue, mas de ar. Todo um novo
sistema orgânico de respiração, toda uma nova rede de poros e gânglios se
espalha dentro dos nossos corpos e por entre nós. No espaço vazio que antes nos
separava, agora se faz uma selva de brônquios respiratórios, pulsando na medida
em que a bebida e a noite avançam. Onde está meu nariz, minha boca, minha
traqueia? Onde estão vocês quando me faço ser eu-e-vocês, nós, vós, eles? Tento
falar rápido para ver se descubro onde estão meus pulmões, pois já não mais os sinto dentro do meu peito. Mas tudo bem, não preciso recuperar o fôlego. Todas
as amormoléculas se modificando em ligações valentes, amorônicas, instáveis e polarizamoradas.
É uma nova substância, na verdade, surgindo dessa mistura que insiste em se
apresentar enquanto conversamos. É uma cola, uma tinta que nos colore e nos
desfaz os contornos. Nossos olhos derretem, pois agora enxergamos pelos poros,
pela boca, pelo riso e pelo abraço. Nossos poros se dilatam, tal como uma
pupila, e agora podemos ver e ouvir com
nossos corpos. Podemos respirar. Nossos novos pulmões pedem outra coisa além de
oxigênio.
Todo o oxigênio
amor do mundo cabe dentro d'uma sala-de-estar, não sabia?
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