Tá cheio.
É a linha azul às 18 horas de um domingo, é de se esperar.
O empresário do meu lado parece impaciente olhando pro relógio de
pulso, e só desvia a atenção pra checar a possível luz no fim do túnel. O vagão
se aproxima, lento e descompromissado com a irritação do senhor que,
impaciente, suspira.
E, então, ela chega. Ela se senta, ela fica de pé, quem sabe
segura uma criança. Quem é ela? Paixão de metrô, um dos meus prazeres mais
platônicos. Quem é ela? Ela é linda porque não é nada demais. Ela é
absolutamente cotidiana, ela é linda até a próxima estação. Ou será ainda a
próxima? Não sei. Só sei que não sei há quanto tempo a tenho observado,
dormindo, lendo, cantarolando baixo, fazendo nada, escrevendo algo, olhando
desinteressada para os trilhos do metrô.
Amor de metrô: dura até a próxima estação. Ou será a próxima? Não
sei, mas ela é linda! Linda até a última estação, linda sem explicar, linda
entre o Paraíso e a Consolação, linda no espaço de um vagão inteiro. Ela é demasia
e suficiência, e ela se levanta, calma e oblíqua, como quem decidiu descer de
repente. Mas não desce. Fica no meu trem até a próxima estação. Ou será a
próxima?
Cruzam-se as linhas coloridas do metrô e o vagão range os trilhos
ao acelerar descompassado, mas ela nem sabe que já passei da minha estação
há tempos. E, sem saber, ela me conduz no trilho do trem pra mais uma estação.
Ou será talvez mais uma? Afinal, quem é ela? Ela é linda no vão entre o trem e a
plataforma, ela é linda sem esforço e sem saber, e é corriqueira e comum e
tola.
Ela passa pelas catracas, ela senta ali no canto, ela diz algo ao
telefone, ela olha, ela dorme, ela suspira, ela se mexe, ela rabisca. Ela desce
na próxima estação. Ou será, talvez, na próxima?
Ela é banal, ela é linda, ela é costumeira.
Ela basta.
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