setembro 01, 2014

Amor Pirata

Veja bem: não é que piratas como eu não se apaixonam. Não é por desencanto, desamor ou descaso; é que por acaso os ventos meus e teus nos sopram pr'outros mares. E de males meu navio já está farto, meu amor. O papagaio no meu ombro só me conta desgraças, e este meu tapa-olho só serve pr'eu ver meias-verdades. Não sei se meu navio afunda com o peso disto tudo, nem sei se chegaremos à próxima cidade a tempo. Só sei que paixão de pirata não é porto, é vento. E me perdoe pelo meu amor torto, e pelo meu coração moleque que não faz nada além de soprar esses ventos. Meus pulmões estão cheios de sal do mar, mal consigo respirar novos ares.

Meu amor é vento, meu amor.

Vento a gente não pega na mão, vento a gente sente.
Vento não pára quando chega aqui ou ali; vento venta. Ventania, vendaval, brisa, maresia, mormaço, sopro, furacão. Tudo o que podes fazer, ao ver meu navio passar ao longe, é respirar. Respira e o vento se encarrega de te trazer aqui pr'mim. 
Respira e a maré te traz pelas ondas feito barco de papel.
Respira e os piratas vão aí te roubar pr'mim.
Respira que te roubo.
Respira que respiro.
Respira-me.

O vento há de te soprar no meu caminho.

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